quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um pedacinho do sertão em mim

  

Para alguns, ser caipira é ser brega. Alguns criticam as musicas sertanejas antigas, outros criticam as novas e, ainda, há os que criticam ambas. Seja por preconceito musical, seja por gosto (incrível como algumas pessoas não conseguem perceber o quanto é particular e incondicional os nossos gostos pessoais!). Explicar uma preferência é tão difícil quanto explicar de onde viemos, porque viemos. Comumente ouvimos: "mas como você não gosta disso ou daquilo?” Mesmo assim, nunca ninguém me perguntou porque eu gosto tanto de chocolate ou porque não gosto  de ir ao playcenter, de usar esmalte azul e sapato bico fino. Mas, gosto musical parece que perturba as pessoas. Eu até entendo perturbar, quando se trata de ouvir, numa altura estridente, a mesma música repetidas vezes e impor, assim, o seu gosto musical para a rua toda, como algumas pessoas fazem com frequência, mas não é o caso... 
         Bom, eu amo música caipira, música sertaneja, sertanejo universitário, moda de viola, vanerão, pagode. E, longe de querer impor a alguém a beleza do estilo, apenas ressalto aqui o que ele provoca em mim.
          Um primo meu, lá das Gerais, costuma dizer que nada melhor do que a onda de sertanejo universitário para aproximar os jovens da origem dos seus pais, o que me soou bastante coerente e encantador.
         Os sentimentos expressos pelas músicas sertanejas, em sua maioria, são exacerbados,  desmedidos, dilacerantes, arrebatadores. Nada como a música sertaneja para expressar os mais intensos sentimentos. Quando há dor, a dor é sempre muito aguda e assim são: o amor, a paixão, a saudade, o desejo, o ódio... Algumas vezes não dá nem pra dizer que esses sentimentos realmente existam dessa forma, mas eles representam uma hipérbole da vida, o que, pra mim, é justamente o que torna o estilo musical tão sublime.
        Se, por um lado, a música sertaneja expressa os sentimentos sem pudores, sem restrições, sem julgamentos e nela: “nínguem disfarça, ninguém esconde o que o coração revela!” (Zezé DiCamargo & Luciano – A saudade é uma pedra); por outro, ela traz um pouco da cultura do sertão, das crenças imbuídas de valores antigos, dos causos, de um moralismo sertanejo, que de certa forma, eu assumo, me fascina! Pois...

                ...dentre o que "tá na onda, eu prefiro é ser caipira."

Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoas que eu choro são mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi santa e purificada

Diz que eu rumino desde menininho
Prato mirradinho a ração da estrada
Vou mastigando e ruminando
E assim vou levando essa vida marvada

É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desenganos
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda mágoa é um mistério fora deste plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pra uma visitinha
Que no verso ou no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num cateretê

Tem um ditado tido como certo
Que cavalo esperto não espanta boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada

Cumpadre neu que envelheceu cantando
Diz que ruminando dá pra ser feliz
Por isso eu marqueio pontiando
E assim procurando minha flor-de-liz

É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desenganos
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda mágoa é um mistério fora deste plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pra uma visitinha
Que no verso ou no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num cateretê
(Vide, Vida, Marvada)

Um comentário:

  1. A viola fala alto no meu peito também.

    Fala alto no peito de qualquer um que viaje pela estrada do interior e seja capaz de observar casinhas brancas lá no alto, e a beleza que isso tem.

    Esse caos urbano nada tem de fascinante. A viola que eu escuto no trem lotado, no ônibus cheio de gente me faz pelo menos por alguns minutos sorrir no meio dessa loucura toda desse mundo cinza.

    Saudades, bailarina de Dracena.

    ResponderExcluir