sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O tempo do tempo

Le temps c’est ce qui passe quand rien ne se passe (Giono)

Salvador Dalí  - Relógio Mole no Momento da 
sua Primeira Explosão - 1954
Muito sábio foi Santo Agostinho quando definiu o tempo psicológico e subjetivo. Assim tento entender os motivos que fazem com que ele, ora passe tão rápido, ora demore tanto para passar. Quando esperamos alguém ele pode atingir a dimensão de uma vida inteira, enquanto se estamos atrasados e parados no trânsito, por exemplo, os ponteiros parecem transformar horas em instantes.

Invertendo a perspectiva cronológica e objetiva do tempo, o filósofo suscita a questão: nós que vivemos dentro do tempo ou é ele que vive dentro de nós? Whaterver! Quanto tempo temos para nós mesmos?

Por livre e espontânea pressão, somos induzidos a nos tornarmos workaholics. Quanto tempo do meu dia eu passo dentro de uma empresa? 10 horas. Ah, só isso? Ainda faltariam 2 horas para que fosse metade do m
eu dia. “Tá reclamando do quê?”.

Contabilizando mais oito horas para dormir... “Oito horas? Nem pensar! Quem precisa de tudo isso?” Tá bom, 5 ou 6 horas, ainda me restam 8 horas, das quais no mínimo três gastarei nos trajetos casa-trabalho-faculdade-casa. As outras quatro que sobraram eu posso usar para estudar, ou melhor, para assistir aulas, porque estudar mesmo, só nos finais de semana.  Acho que, no fim, fiquei com uma horinha ainda. Nossa, mas uma hora é taaaaaaanto tempo que nem sei o que fazer com ela. Essa, posso dividir para tomar banho e arrumar as roupas para o outro dia, para conversar um pouquinho com a minha mãe, ligar para uma amiga, talvez. Ou, posso tentar correr com tudo, a fim de dormir mais cedo, pelo menos ficar um pouquinho mais na cama, caso a minha agitação não me deixe dormir. Tv, nem considero a hipótese. Há meses a minha vive desligada, nem sei se ela ainda funciona.

Às vezes nem eu mesma consigo acreditar em tudo que sou capaz de fazer durante a semana. Muitas vezes, só me dou conta de tudo que faço, quando algo não vai bem e tenho que abdicar algumas tarefas.

Esta semana me sinto bastante realizada. Descobri uma academia que funciona 24horas! Fantástico! Aulas de abdominal às 23:00?! É real! Óbvio que já me matriculei. Saí de lá ontem eram quase duas da manhã. Afinal, dormir pra quê!

Ser mulher torna a questão do tempo ainda mais difícil. Só de imaginar um dia ter que dividir o tempo com casa, trabalho, marido, filhos, já sinto cansar a minha beleza. Se com a vida que eu levo, já tenho que fazer depilação de madrugada, o que seria de mim? Eu pinto as unhas na hora do almoço e faço hidratação nos cabelos às 4h da manhã, inclusive, em dias que fiquei arrumando o quarto até às 3h.

Mas, reclamar para quê? Se ainda temos o final de semana inteeeeeirinho, né? Um final de semana inteirinho para resolver pendências, levar o carro para arrumar/ lavar, fazer trabalhos de faculdade, visitar amigos, parentes, arrumar coisas pessoais, planejar a semana (porque sem planejamento é que não funciona mesmo), ir para baladas, namorar e tudo o mais. Eu ainda quero tempo para mais o quê? Para comprar vestidos? Para ir ao forró, que anda tão distante de mim? Ou quem sabe fazer aulas de ballet, capoeira, violão? Quanta bobagem!

Quisera eu ter o controle total do tempo cronológico, porque o meu psicológico já vagueia por demais da conta. Quisera eu poder determinar mais tempo para minha vida que para os interesses de outrem. Quisera eu três vezes por ano ter um final de semana com cinco dias. Porque voltar o dia para fazer tudo diferente (como no filme “meia noite e um”) ou parar o tempo durante uma única noite, na qual eu pudesse dormir duzentas horas (como a Camila de Fera Ferida – Claudia Ohana), é querer demais.

Quiça um dia eu possua controle total sobre o meu próprio tempo. 

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