terça-feira, 29 de novembro de 2011

"Todos os prazeres excessivos aniquilam"


Aristóteles definia a paixão (páthos), como algo capaz de impulsionar o homem à ação (práxis). Desse modo, ela poderia, então, ser considerada virtude ou vício, sendo determinada de maneira bastante individual e específica. O homem não escolhe suas paixões, mas ele é o único absolutamente responsável por elas. O único capaz de dominá-las, com o intuito de que elas não o dominem.
Um homem torna-se virtuoso, não ao renunciar suas paixões, mas ao aprimorar sua própria conduta, a fim de não se sucumbir a elas ou de deixar seu próprio “eu” perdido pela vida afora....

Desvarios por prazeres excessivos são como doenças da alma. O homem sob esse mal, torna-se incapaz de ver ou de escutar com precisão o que quer que seja. Torna-se inapto ao menor raciocínio. Não consegue medir a proporção e dimensão dos seus próprios atos. Cega-se para o mundo. 1

Dizia, sabiamente, um professor muito querido: “todos os prazeres excessivos aniquilam”.2





1 - Referências do texto: O Conceito da Paixão - Gérard Lebrun (Págs: 17 a 33)
2 - Joaquim Alves de Aguiar

Quando o que realmente importa, não importa


O que fazer, quando o que realmente importa pra mim não é digno de qualquer prioridade, empolgação, desejo ou anseios seus? O que fazer, quando o que realmente importa para você não desperta dedicação sequer aos pensamentos meus? 

Há nisso, algo de triste, de desolador, de incompatível na compreensão de um "nós"... 
Algo que eu simplesmente não consigo explicar...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Indo de "Onde" para "Lugar algum"




Talvez não conviria colocar este post logo na sequência do último texto. Mas, a vida é feita mesmo de paradoxos.  De paradoxos que nunca se acabam.

Não fosse o lindo anel que ganhei dos meus pais e que carrego comigo para todos os lugares, era bem capaz de se esvair de mim tudo que vivi na universidade, com relação ao conhecimento que acreditei ser tão transformador, tão inspirador e poderoso. Porque é apenas quando o vejo em mim e me fixo profundamente no roxo de sua pedra, lembro-me de que houve, nas noites e noites constantes que fiquei sem dormir, nos finais de semana que abdiquei, uma grande dedicação, um grande esforço, um constante empenho para resultar... no que sou hoje, no que me tornei enquanto pessoa e na minha maneira de ver e interpretar o mundo. Foi bom para meu crescimento pessoal, mas foi tão pessoal que ninguém alheio o mim foi capaz de notar. E assim me contento às vezes, como admirando uma pérola que ficará para sempre dentro da concha.

Já cansei de acreditar que tudo mudará um dia por esforços, que pra mim já se tornaram mais que repetitivos e cansativos. Talvez eu seja como Sísifo* mas esteja pagando por algo que infelizmente não sei o quê, executando um trabalho monótono, repetitivo e emburrecedor, cuja barreira de ascensão já se tornou completamente intransponível.

Talvez eu tenha feito milhões de escolhas e talvez todas elas foram erradas.

O fato é que, mudam-se os protagonistas, mas o enredo é sempre o mesmo. Adicionam-se peripécias e personagens, modificam-se o espaço e o tempo, mas a tragédia é exatamente a mesma.
Talvez seja mesmo um carma. Uma sina... e seja mesmo irrefutável.  

Será que ainda existe, nem que seja numa vida espiritual, a possibilidade de que eu consiga outro papel nessa trama? Eu não tenho religião, mas bem provável se eu tivesse, haveria no céu ou no inferno algo chamado “recepção”, para que eu permanecesse lá... ad infinitum.


E assim continuo... Caminhando de “onde” para lugar “algum”.


* personagem da mitologia grega, que por ter desafiado os deuses, foi condenado a repetir por toda a eternidade a mesma tarefa de empurrar uma pedra de uma montanha até o topo, só para vê-la rolar para baixo novamente.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Je le jure...




Je vous promets de chercher dans l’essence des mots ce que l’énonciation signifie.

En tant que professionnel de Lettres,j’aurai comme outil de travail LA LANGUE dans toutes ses manifestations, je chercherai à mettre en valeur les diverses cultures dans leur ensemble et dans leurs parties et j’essaierai de promouvoir l’échange ou la confrontation toujours salutaires des idées éveillées par les peuples partout dans la planète.Profitant du pouvoir des mots,je donnerai ma collaboration à l’interaction et la paix entre les êtres humains,soit en assurant des cours,en traduisant, en faisant des recherches,des  critiques ou même en bavardant.
Je le jure.

terça-feira, 26 de abril de 2011

E o que parecia futuro, começou...


Após tanta luta... após cinco anos que pareceram infindáveis, mas dos quais tenho certeza de que nenhum outro passará tão rápido na minha vida... após muitas noites mal dormidas e finais de semana plenos de livros, textos, resenhas e monografias.. Notifico o fim de um dos capítulos do livro da minha vida...
 “No meio do caminho, tinha uma pedra.”[1] Uma não, tinha várias. Não foi fácil lidar com os julgamentos e críticas recebidas pelo curso que escolhi. Nós, às vezes, pagamos caro por nossas escolhas e essa não foi diferente. Se valeu a pena? Claro! “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”[2]. E vale ainda mais pra quem sabe enxergar longe, quando você é do tamanho daquilo que vê, do tamanho do seu sonho e não, obviamente, do tamanho da sua altura [3].
Depois de viajar por tantos lugares com tantos personagens, percorrer poeticamente os cantos mais rústicos do sertão com Guimarães Rosa, perceber a alma desmascarada, dilacerada e revelada pelos indeléveis parágrafos de Machado de Assis, quebrar a fina e tênue tela que separa o cotidiano das experiências da alma das mulheres de Clarice Lispector, aprender a unir o simples, o complexo e o sublime da poesia polifônica de Fernando Pessoa, percorrer por diversos países, conhecendo diversas culturas sem muitas vezes sair do meu próprio quarto, acho que chegou a minha vez de inventar a realidade, em outra palavras, de assumir o destino da minha vida pelas minhas próprias mãos.
O que fica depois de tantos anos, frente ao tão variado e desconhecido caminho que me aguarda? Ficam os livros, os professores, os momentos de alegria, lembranças da “quinta-e-breja” e dias de sol no CEPE, todos os meus amigos e tudo que aprendi, porque como meu pai diz: “O saber não ocupa espaço e é a única coisa que nunca conseguirão tirar de nós” [4].
Esses elementos não entraram e não sei se entrarão, como fatores de uma equação que determinará minha profissão – seja ela qual for –, mas são variáveis eternas que influenciarão sem dúvida meu modo de ler a vida para sempre. *

Peço licenças poéticas para essa publicação:
“...E o que parecia distante, passou.
E o que parecia eterno, acabou.
E o que parecia futuro, começou.”
(Alex Hotz)


A minha Colação de Grau, será realizada no dia 06 de maio de 2011, às 19h, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, 95 – Centro. Infelizmente, não poderei contar com a presença de todos neste evento, porque a agência de formaturas não permite que o formando possua mais de 14 convidados na colação de grau, justamente porque o salão não é muito grande e eles zelam pela acomodação de todos.
Enfim... sei também que pode ser um evento um pouco pedante e que nem todos gostam. Desse modo, peço aos interessados, que confirmem a presença, para que eu possa contabilizar certinho com quem gostaria de ir.

O baile de gala se realizará no dia 07 de maio de 2011, horário ainda não definido, no Espaço Hakka, à Rua São Joaquim, nº 460 - na Liberdade. Os convites para a festa estarão à venda até dia 29 de abril e custam R$140,00. http://www.hakkaeventos.com.br/. Haverá jantar, coquetel open bar com drinks, cerveja e sucos.
______________________
*Texto de Juliana Bianchi Leone, aluna do italiano, modificado por mim.
[1] Drummond
[2] Fernando Pessoa
[3] Texto original: Porque eu sou do tamanho do que vejo, de Fernando Pessoa por Alberto Caeiro: “Porque eu sou do tamanho do que vejo /e não, do tamanho da minha altura...”
[4] Frase do meu pai: Clauderval.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Reminiscências infantis


Não quero adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.

Oscar Wilde

“Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.” (O Pequeno Príncipe)

Voltar a ser criança é uma hipótese surreal, porém encantadora!
Quase tão encantadora como viver um conto de fadas. 
   
            Quando eu era criança, algumas coisas simplesmente não importavam. E isso era bom!

Se hoje eu pudesse voltar a ser criança, com o discernimento que adquiri com o tempo, aboliria o maior desejo de grande parte das crianças: o de querer ser um adulto. Quando somos crianças, parece que o tempo não passa. Queremos crescer logo, pensar, agir e viver como os adultos e não suportamos quando nossos pais dizem: “não pode! Você ainda é apenas uma criança”.
                 Se eu pudesse voltar a ser criança, até a autoridade dos meus pais sobre mim me faria muito feliz. Hoje eu sei que receber um “não” de outrem, por aí afora, certamente nos é imensamente mais dolorido.
 E... é tão lindo ser criança!
Ser criança é ver o mundo com olhos inocentes, com pureza, encanto, imaginação e criatividade. Ser criança é conversar com papéis de parede, ver figuras nas nuvens, ter momentos mágicos e amigos imaginários. Ser criança é fazer traquinagem, fazer experiências estranhas em casa, só para ver o que acontece... É desmontar um brinquedo para tentar entender como ele funciona, é ter curiosidade, ter flexibilidade, não poupar energia e dormir de exaustão depois de tanto brincar.
          Ser criança é comer pedrinhas de açúcar, gostar de algodão doce, pipoca, sopa de letrinhas. É passar a tarde assistindo a desenhos animados, com intervalos para tomar chá e comer bolinho de chuva...
     Ser criança é devorar uma sobremesa sem  pesar, recebida como prêmio por ter feito as refeições direitinho. Ser criança é ganhar um brinquedo caro e um barato e gostar muito mais do barato. É gostar de fazer bolinhas de sabão, é sentir prazer nas pequenas coisas da vida. Ser criança é acreditar que tudo é possível, é esperar presente do Papai Noel, é ficar fascinada com o encanto da árvore de natal. “Ser criança é ter coragem de não ter medo, é saber embrulhar desapontamentos e abrir caixinhas de surpresas. Ser criança é detestar relógios e compromissos. É ter pouca paciência e muita pressa. Ser criança é não saber nada e poder tudo”. [1]
 
                Ah! Se eu pudesse voltar a ser criança!

Se eu pudesse voltar a ser criança, certamente leria mais. Gostaria de ter sido apresentada ao mundo fascinante dos livros logo que fui alfabetizada. Divertia-me muito ler gibis. Eu era fã da turma da Mônica e tinha um apreço especial pela Magali - achava tão divertido ela comer tanto! - afinal, seu prazer emergia de um hábito tão coerente, concreto e particular! 

Além dos gibis, na minha infância toda, nunca ouvi falar em literatura. E como isso teria feito diferença em minha vida! Fico imaginando a imensidão de livros que poderia ter lido... Talvez me tornasse uma completa viciada por cultura, livros e línguas, como o escritor Canetti.  Sempre quis saber o gostinho de ter lido Machado de Assis aos treze anos. O que significaria pra mim relê-lo depois, na faculdade?  
            Se eu pudesse voltar a ser criança, acho que faria muita coisa diferente. Não deixaria de acreditar em um sonho para fazer parte das estatísticas dos que não se realizaram por falta de oportunidade. Usaria toda minha energia e força para correr, de maneira ávida, atrás de todos os meus sonhos e de todas as oportunidades que eu simplesmente deixei passar, em virtude de uma racionalidade e sensatez que me tornaram "gente grande" rápido demais.

Sabe, quando eu era pequena, não conseguia entender direito, porque algumas coisas tão importantes para mim, não era também para os outros. A idéia de “você não deve tomar seu tempo com isso” me parecia muito mais pertinente que hoje, depois de descobrir que tudo é tão relativo.

“Só as crianças sabem o que procuram." “Perdem tempo com uma boneca de pano, e a boneca se torna muito importante...” “- Elas são felizes...” (O Pequeno Príncipe)

Infelizmente, para algumas realizações pessoais, há um prazo... definido pela própria vida. Quando se é adulto, as responsabilidades não podem ser negadas e aí é que nos damos conta de que o tempo de brincar passou; de que o nosso “errar” não é mais inconseqüente; de que depois de adultos pagamos muito caro por cada uma de nossas escolhas.
               Acabei de reler um livro maravilhoso: O Pequeno Príncipe... Antoine de Saint-Exupéry coloca justamente em evidência as disparidades e as peculiaridades entre o mundo infantil e adulto, através de uma sensibilidade capaz de nos fazer refletir muito sobre nossos valores em relação à vida. Mais uma vez me emocionei. Nós, adultos, nos preocupamos muito com coisas que supomos sérias e deixamos o mais simples e belo da vida passar.

           Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o principezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não a rosa...E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tanta importância!” (O Pequeno Príncipe)

              “As pessoas grandes adoram números”. Desde criança, eu nunca fui ligada a eles. Talvez por isso eu tenha escolhido cursar Letras na faculdade. Analogias e contraposições à parte, uma voz me dizia que essa faculdade nunca me traria muito dinheiro, mas eu nunca liguei de verdade pra isso. Eu não posso dizer que sou bem-sucedida profissionalmente, mas se existe algo do qual eu não me arrependo, é de ter feito essa escolha. Talvez tenha sido minha maior realização diretamente relacionada a um modo infantil de “acreditar”, de optar pelo que faz bem e dá prazer, sem pensar muito nas conseqüências. 
Quando eu era criança, gostava de conversar com plantas. Tinha alguns vasinhos de flores vermelhas e cor-de-rosas, os quais cuidava com muito carinho. Mas, sempre que conversava com elas, conversava um pouquinho tmbém com cada plantinha que minha mãe tinha, incluíndo os xaxins, samambaias, comigo-ninguém-pode, Espadas de São Jorge e até mesmo com os pézinhos de pimenta. Tinha medo que elas ficassem com ciúmes das minhas adoradas rosinhas. Naquela época, eu conseguia perceber o quanto elas ficavam mais bonitas e viçosas quando recebiam atenção, quando eu me sentava com elas para lhes contar historinhas.
É quando descobrimos nosso tamanho em relação ao mundo, que paramos de dar “atenção ao que é efêmero”, sem considerar que também somos tão efêmeros quanto. Nos tornamos pessoas menos felizes. Muitas vezes não conseguimos notar a importância de algo que é passageiro ou não somos capazes de valorizar instantes, não considerando a hipótese de que eles possam se tornar eternos dentro de nós.
Dá-me tanta tristeza narrar essas lembranças! Faz já seis anos que meu amigo se foi com seu carneiro. Se tentar descrevê-lo aqui, é justamente porque não o quero esquecer. É triste esquecer um amigo. Nem todo o mundo tem amigo. E eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes, que só se interessam por números. Foi por causa disso que comprei uma caixa de tintas e alguns lápis também. É duro pôr-se a desenhar na minha idade, quando nunca se fez outra tentativa além das jibóias fechadas e abertas dos longínquos seis anos! Experimentarei, é claro, fazer os retratos mais parecidos que puder. Mas não tenho muita esperança de conseguir. Um desenho parece passável; outro, já é inteiramente diverso. Engano-me também no tamanho. Ora o principezinho está muito grande, ora pequeno demais. Hesito também quanto à cor do seu traje. Vou arriscando então, aqui e ali. Enganar-me-ei provavelmente em detalhes dos mais importantes. Mas é preciso desculpar. Meu amigo nunca dava explicações. Julgava-me talvez semelhante a ele. Mas, infelizmente, não sei ver carneiro através de caixa. Sou um pouco como as pessoas grandes. Acho que envelheci. (O Pequeno Príncipe)
“‘Hoje’ , infelizmente, ‘eu também’ não sei ver carneiro através de caixa. Sou ‘exatamente’ como as pessoas grandes. Envelheci.” E, como gostaria de voltar a ser criança!



1] Maria Alice Estrella

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


A palavra entusiasmo vem do grego e significa "ter um deus dentro de si". 
Os gregos eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses.
A pessoa entusiasmada era aquela "preenchida" por um dos deuses e por isso poderia transformar a natureza e fazer as coisas acontecerem.


Assim, se você fosse entusiasmado por Deméter (deusa da Agricultura, chamada Ceres na mitologia romana) você seria capaz de fazer acontecer a melhor colheita, e assim por diante.
Segundo os gregos, só as pessoas entusiasmadas eram capazes de vencer os desafios do cotidiano, criar uma realidade ou modificá-la. Portanto, era preciso entusiasmar-se, ou seja, "abrigar um deus em si"!
Por isso, as pessoas entusiasmadas acreditam em si, agem com serenidade, alegria e firmeza. E acreditam igualmente nos outros entusiasmados.
Não é o sucesso que traz o entusiasmo, é o entusiasmo que traz o sucesso.
O entusiasmo é bem diferente do otimismo. Otimismo significa esperar que uma coisa dê certo.
Entusiasmo é acreditar que é possível fazer dar certo.

Texto divulgado por Mestre Gladson ao Projete Liberdade Capoeira.